quinta-feira, 5 de março de 2015

              


             UMA CAMBADA DE VIGARISTAS?



Pois é. É o que apetece dizer.
Ou… “uma credibilidade ferida de morte”…
Ora adeus! Elas são tantas nos últimos tempos. Sim, as credibilidades feridas de morte. As credibilidades de rapazes a quem não damos crédito que chegue para votarmos neles, mas em quem estupidamente votamos, e cujas credibilidades vão ficando feridas de morte por suspeita de falcatrua, por evidência de incompetência, por mentirolas, por irregularidades de maior ou menor calibre.
Feridas de morte que nunca chegam a matar.
        Relvas, Vara, Sócrates, Duarte Lima, Oliveira e Costa. E BES. E GES. E doces e salgados. E submarinos. E Freeport. E contas na Suíça. E Tecnoforma. E Segurança Social. E fisco. E os rumores nas redes sociais sobre a credibilidade até (pasme-se!) de Mário Soares, agora que o apanham já velho. As irrevogabilidades de 24 horas de Portas. A devassa vingativa que andam a fazer às contas passadas da vida de António Costa. O sorridente descaramento do Bava e as lágrimas do Granadeiro. A epidemia de amnésia que varre o país dos gestores…


        Como é isto da democracia portuguesa? Só teremos todos os quatro anos para escolher entre duas cambadas de vigaristas?
        Como é isto da democracia portuguesa? Votamos todos os quatro anos numa cambada de vigaristas para apadrinharem a cambada maior dos outros vigaristas em quem não votámos?
Custa a crer. Pois custa.
        Já para não falar no caso que se me atravessa na garganta e do qual pouco os jornalistas falam (et pour cause), que é o dos deputados, todos, unânimes, da esquerda radical à direita não-sei-quê, a aumentarem-se a si mesmos significativamente de vencimento, ao mesmo tempo que aprovam leis que tornam dramáticas as vidas daqueles que neles votaram, caso que considero o nec plus ultra da infâmia política nacional.
E isto por falarmos em credibilidades feridas de morte.


Mas será mesmo que quando nos atiramos às urnas, no fim de contas, estamos a votar, e a legitimar, uma cambada de vigaristas sem credibilidade, ou de credibilidade ferida de morte logo in ovo? E para depois, no correr das legislaturas, ouvirmos dizer quer a credibilidade de alguns deles está ferida de morte mas nunca chega a matar?
É rasca, e banal, e demagógico, e pindérico, e populista falar mal da classe política como um todo. Eu sei.
Mas como individualizar responsabilidades quando também se diz que tudo faz parte de um sistema?
Como individualizar responsabilidades se se diz que o indivíduo só por si nada pode contra um sistema instalado?
Como individualizar responsabilidades quando do tal sistema, por acaso, o indivíduo também faz parte? E fazendo parte do sistema e sendo co-responsável no bom momento, como não terá também de se sentir solidário quando achincalhado e apanhado na leva dos réprobos quando o momento é reles?


No caso do rapaz que representa para nós na televisão o papel de 1º ministro os ferimentos de morte na credibilidade política (e cívica, pois então!) vieram a lume com a nunca explicada Tecnoforma e desaguaram nos dias de hoje com as contribuições para a Segurança Social e com algumas quezílias fiscais.
Ferimentos de morte política que alguém vai ter de sarar e deixar sem as consequências politicas que noutro Estado de Direito, mais habituado à honestidade democrática, implicariam demissão por motu próprio, mas que neste soalheiro rincão, pelo contrário, reforçam lideranças e prenunciam felicidades em eleições futuras.
Dizem que por menos do que isso o António Vitorino, etc.; dizem que por menos que isso o Jorge Coelho etc..
Ora bolas!
Também dizem que por muito menos, escandalosamente menos, do que tudo isso ao governo de Santana Lopes foi passada guia de marcha para casa.


Pois não. Este país político não é para levar a sério. Para levar a sério só as vidas dos que sofrem as consequências dos actos políticos dos rapazes que às vezes parecem constituir-se como uma cambada de vigaristas (e ainda por cima incompetentes, muitos deles), e alçados ao poder pelos votos dos que lhes sofrem as dramáticas consequências.
      Mas ao mesmo tempo acabo por admirar o estômago do rapaz que representa para nós na televisão o papel de 1º ministro – admirar negativamente, também há, como o benfiquista que mesmo a contra-gosto tem que admirar a obra do Pinto da Costa.
 É mau actor, mesmo assim, é canastrão, é, mas tem estômago. Um homem sem biografia, lá está, nem política, nem profissional – ou talvez a biografia de um rapaz da noite.
O rapaz da noite licenciado a martelo numa universidade qualquer aos quarenta anos. Dizem que se submeteu a tratamentos de desintoxicação. Não sei de que se desintoxicou. Talvez de uma ou outra overdose de mediocridade.
O rapaz da noite que conhece e desconhece as leis conforme dê jeito, a ele, ao passado dele, e antes de mais aos interesses de que é testa-de-ferro.
O rapaz da noite que os nossos tacanhos “superiores desconhecidos” viram como o homem ideológica e culturalmente descaracterizado, o zero, o homem perfeito para executar sem rebates de consciência políticas gravemente lesivas dos pobres ou remediados interesses da maior parte da população.


Era preciso alguém sem nome e sem talento (nem para cantar ópera), sem obra feita ou por fazer, sem prestígio de qualquer espécie (ou só na noite), mas com dose considerável de lata, descaramento e insignificância para debitar festivamente o que lhe mandassem, hoje uma coisa, amanhã outra, eventualmente o contrário da primeira, indiferente, irrelevante, como se nada fosse, só para entreter.
Porra! Também é preciso estômago!
(Robert Musil – O Homem Sem Qualidades – grande romance.)
É preciso estômago e algum talento, afinal. Talento do tipo contentinho e insignificante. O talento de ser nada e fingir de 1º ministro.
 (Ingmar Bergman – Da Vida das Marionetes – grande filme.)
É de admirar no rapaz da noite a figura de ninguém que perante uma nação inteira represente durante quatro anos o papel de alguém.


1 comentário:

  1. Na verdade meu caro Joel Costa, nada disto me surpreende, não esperava outra coisa desta gentalha que vai desgovernando este país, como também não me surpreende o (p)residente que colocaram em Belém e antes disso como 1º ministro.
    Esta rapaziada, a meu ver, fez, faz e fará exactamente isto que temos assistido...
    O que me surpreende meu caro Joel Costa, é que "este povo" continue a votar nesta gentalha ao fim de 40 anos, isso sim, surpreende me.

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